O grupo de pesquisa Ativismo
Judicial e Corrupção – GUPAC, através do professor Adolpho José Ribeiro
realizou nos dias 3 e 5 de novembro no auditório Tarcísio Burity, no UNIPÊ, o l
Encontro Filosófico-Político ao Pôr do Sol, tendo como tema a corrupção. Os
palestrantes foram os professores: Adolpho Ribeiro, Armando Albuquerque,
Flamarion Tavares, Vinícius Soares e Renato Carneiro.
A palavra corrupção significa a ideia
de um vínculo entre pessoas que se quebra, se rompe, corrompe, levando a uma
deterioração, declínio entre as partes. Com alguns elementos, como o suborno,
superfaturamento, pixulecos e pedaladas, a corrupção tem como força inicial o
patrimonialismo, que seria a mistura do público com o privado.
Tem muito a ver com nossas sociedades latinas devido aos nossos colonizadores, os portugueses e os espanhóis. Com a independência dos países da América Latina, temos o estabelecimento formal de autoridades que são racional legais, porém com traços fortes de patrimonialismo, que hoje não estão somente ligados ao lado histórico de países como a Venezuela, por exemplo, com o bolivarianismo, mas com um teor protecionista, visando ao desenvolvimento econômico e social daquela sociedade supostamente resguardada por suas autoridades, que praticam a confusão do público com o privado no que chamamos hoje de neopatrimonialismo.
Tem muito a ver com nossas sociedades latinas devido aos nossos colonizadores, os portugueses e os espanhóis. Com a independência dos países da América Latina, temos o estabelecimento formal de autoridades que são racional legais, porém com traços fortes de patrimonialismo, que hoje não estão somente ligados ao lado histórico de países como a Venezuela, por exemplo, com o bolivarianismo, mas com um teor protecionista, visando ao desenvolvimento econômico e social daquela sociedade supostamente resguardada por suas autoridades, que praticam a confusão do público com o privado no que chamamos hoje de neopatrimonialismo.
Somente tendo como base um legitimo
estado de direito, onde exista uma separação entre o público e o privado, em
que a ideia de uma igualdade jurídica está aplicada de forma clara, é que se
pode pensar na ausência do patrimonialismo.
No Brasil, o patrimonialismo é
presente desde a Colônia, passando pelo Império até os dias atuais. Os republicanos
culpavam o sistema autoritário e despótico pela prática do patrimonialismo. Com
a República instaurada, essa prática
continuou com o coronelismo – o coronel
que indicava quem seria o prefeito de sua região através dos currais eleitorais
– e os críticos começaram a por a culpa da corrupção nas pessoas que se
auto protegiam e beneficiavam, não mais no sistema. Com a revolução de 30, os
revoltosos deixaram de acusar as pessoas, sendo agora o sistema visto como oligárquico e patrimonialista. Segundo o
historiador José Murilo de Carvalho, uma grande mudança ocorre na década de 40, com a queda de Vargas em 45 e a
formação dos partidos PTB, PSD, herança de Vargas e a UDN com Carlos Lacerda,
onde se vinculava o problema da
moralidade pública com a moralidade privada. Nisso se baseou o golpe de 64 que
tinha como missão o combate à subversão e à corrupção, logo inviável, pois em governo
autoritário não existe transparência. Foi um momento na história de nosso país
onde o patrimonialismo se fez presente de forma irrefutável. Essa busca pela
moralidade privada não surtiu efeito sobre o moralidade pública, e nem poderia,
já que era dentro do sistema público político onde existia os mais variados
desvios de conduta, e não nas vidas e casas das pessoas.
Segundo o professor e cientista
político Armando Albuquerque, o comportamento de uma sociedade é moldado pelas instituições,
temos uma cultura que não é muito afeita a seguir regras, temos vícios como o compadrio,
misturamos o público com o privado, onde ao invés de haver concurso público,
previsto legalmente na constituição de 88, preenche-se um número exagerado de
cargos com os de maior afeição, conhecidos como cargos comissionados. Segundo o
professor, isso, é uma cultura política,
que se dá dentro de instituições que não são em essência republicanas, comum aos países ibéricos. As instituições que são fracas
e falhas moldam comportamentos e criam
uma cultura viciada em corrupção. No século XX, o economista e cientista político Joseph Schumpeter, fazendo
uma ruptura com a noção clássica de democracia, afirma que apesar de eleições
periódicas, livres e justas, nunca, em nenhum lugar, em tempo algum, o povo
governou; na melhor das hipóteses o povo escolhe quem vai governá-lo,
estabelecendo a democracia como um método de escolha dos governantes, sendo
essa visão também ratificada por Samuel Philips Huntington, autor da obra
Terceira Onda. Eleger alguém não garante
que o eleito terá atitudes racionais e que esse governo seja representativo ou
que haverá uma distribuição de renda razoável, ou seja, a democracia é algo
formal e não substancial, dando a uma elite o direito de governar e não o povo.
Existe uma diferenciação entre a democracia eleitoral e liberal, esta última indo
além do mero processo eleitoral em que indivíduos elegem seus
governantes, na democracia liberal existe um processo de responsabilização dos
agentes públicos, conhecido como accountability (horizontal e vertical),
resumindo-se na obrigação do governo administrativo ou representativo de
prestar contas a órgãos controladores ou a seus representados, ou seja, a
sociedade civil (associações em geral, OAB, sindicatos) e a população em geral. Um país onde não há essa
prestação de contas pelos gestores públicos, não pode ser visto como democracia. Para se ter ideia sobre essa
prestação de contas, no parlamentarismo existem três tipos de responsabilidade:
a política, a administrativa e a penal; no Brasil, onde rege o
presidencialismo, não se tem a responsabilidade política, ou seja, em um país
parlamentarista basta o governo ser incompetente para se perder o cargo, para
ser levado à renúncia por um voto de desconfiança do parlamento; no nosso caso,
a única forma de se retirar o executivo é através do impeachment que é muito
mais complicado e demorado, pois a responsabilidade é meramente administrativa
e penal.
Segundo a teoria da modernização, a
corrupção é mais aflorada em países que não obtiveram um bom desenvolvimento,
pois toda mudança social leva a mudanças institucionais, que, quando não forem
implantadas adequadamente, levam a mecanismos de corrupção – jeitinho brasileiro
no nosso caso. A corrupção estaria então atrelada ao mal funcionamento das
instituições que não alcançaram um desenvolvimento pleno, previsto apenas em
uma democracia liberal. Outra grande questão que permite a corrupção é a
deficiência nas punições severas aos que velam pelo mal do sistema, onde a sociedade aceita por ignorância ou por comodismo, ou mesmo por
conivência, que o sistema viciado
perpetue, diferentemente daquelas sociedades legalistas nas quais tais atos de corrupção,
onde os maiores crimes são contra o Estado, contra a propriedade, são punidos
de forma exemplar. Portanto, quanto mais uma sociedade aceita de forma pacata
ações ilícitas ao patrimônio público, em benefício de interesses privados de agentes
envolvidos na esfera pública, mais corrupta essa sociedade é, se vendo na
obrigatoriedade de fazer parte da corrução para ter chances reais de progressão
econômica ou social, ao entrar em esquemas
de licitações, molhar a mão de autoridades para driblar a burocracia, sonegar
impostos, entre tantos outros métodos embalados no típico jeitinho brasileiro
de troca de favores.
Isso não é apenas uma questão
legal, mas também cultural. E para não faltar estatísticas, temos o Brasil
ranqueando em 63° lugar no mundo como país menos corrupto, em comparação, os
EUA estão em 17° no mundo, e os menos corruptos são países como Finlândia, Islândia, Bélgica,
Noruega. Na América Latina o Brasil está em 4° lugar em corrupção, atrás do
Uruguai, Costa Rica e Chile.
Para o professor Armando, o
problema da corrupção se resolveria com
instituições fortes e que funcionem. Para
o professor, o Brasil está caminhando para isso, estaríamos em um momento de ruptura,
com a sociedade vivenciando mudanças e alguma transparência, esperando duras punições aos que da pátria se apropriaram nos
últimos tempos. Seria através dessa reforma institucional fortalecida que a
sociedade seria novamente moldada em comportamento, que posteriormente, criaria
uma nova cultura, que não aceita mais essa corrupção ou que aceite menos.
As palestras ministradas serviram
como um incentivo aos jovens estudantes de Direito, que muitas vezes, cercados
e bombardeados por escândalos de corrupção escancarados na mídia - que mesmo
ainda não sendo tão transparente, ajuda-nos no conhecimento acerca da conjuntura
atual de nosso país – perdem o norte, o sentido e a razão pela qual estão se
aprimorando nas condutas legais através dos códigos e da constituição, estímulo
esse que nos ajuda a ter garra e um
pouco mais de esperança em ver um Brasil justo e menos desigual, onde haverá
responsabilidade pública patrimonial e os poderes agirão unidos em prol somente
da legalidade e bem estar dessa população que tanto sofre e clama por dias
melhores.
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