Há 25 anos, foi criada no Brasil a
Lei Federal 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com a promessa
de cuidar e proteger todos os menores de 18 anos, que se transformaram em
sujeitos de direitos e deveres, cujo desenvolvimento físico, mental, moral e
social, no intuito de formar cidadãos preparados para a vida adulta em
sociedade, deve ser prioridade absoluta do Estado.
Não há dúvidas sobre os avanços conquistados durante esses anos na vida de nossas crianças e adolescentes, podendo-se destacar a redução na mortalidade infantil em mais de 25%; o aumento no acesso à escola, com mais de 98% das crianças matriculadas no ensino fundamental e 85% dos adolescentes no ensino médio – segundo o MEC; o aperfeiçoamento no sistema de adoção familiar; o disque denúncia, para casos de trabalho infantil e prostituição. Mas, como jargão na economia, sabe-se que a estatística é a arte de torturar os números.
Não há dúvidas sobre os avanços conquistados durante esses anos na vida de nossas crianças e adolescentes, podendo-se destacar a redução na mortalidade infantil em mais de 25%; o aumento no acesso à escola, com mais de 98% das crianças matriculadas no ensino fundamental e 85% dos adolescentes no ensino médio – segundo o MEC; o aperfeiçoamento no sistema de adoção familiar; o disque denúncia, para casos de trabalho infantil e prostituição. Mas, como jargão na economia, sabe-se que a estatística é a arte de torturar os números.
Embora os responsáveis pela
efetividade dos 241 artigos do ECA tenham uma visão positiva nesses 25 anos, a
sensação que temos é a de um relativo fracasso diante de tantas promessas de
melhoria da vida de nossos menores de idade. Se o acesso à escola foi melhorado,
onde está a melhoria na qualidade do ensino? Se a mortalidade infantil caiu,
como anda a saúde dos que passam dos primeiros anos de vida? Se o disque
denúncia existe para integrar as polícias no combate à violência infantil, como
tolerar ainda tanta prostituição nas ruas e estradas? Se o Estado se propôs a
cuidar de nossos menores, como o tráfico de drogas pôde destruir a melhor fase
de suas vidas? São tais indagações que se transformam em indignações mediante o
quadro caótico em que se encontram nossos jovens futuros quase cidadãos. Formular leis
apoiadas em Direitos Humanos, formatar números para uma boa aparência em esfera
internacional, criar inúmeros projetos em benefício da sociedade em época
eleitoral, são muitas as promessas que nem saem do papel, e quando se
concretizam ficam muito aquém do necessário para haver uma real transformação.
Temos carência de Conselhos Tutelares
nos municípios e muitos estão mal equipados. O Conselho Tutelar é uma das
entidades públicas competentes a salvaguardar os direitos das crianças e dos
adolescentes nas hipóteses em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus
pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres previstos na legislação do
ECA e na Constituição de 88. Também estamos carentes de varas especializadas em
infância e juventude. Difícil dizer, atualmente, do que não estamos carentes. A atual
conjuntura do país merece um cuidado maior para com nossas crianças, vamos
deixar de querer sanar problemas sérios e reais, que há muito tempo nos
atormenta, com apenas pequenas mudanças nas leis, teorias que nunca darão certo
se não houver uma comoção geral da população, juntamente com o Estado, para a
real promoção do bem estar ao cidadão brasileiro. Mudanças reais e efetivas se
deram no mundo todo através da reestruturação da educação, objeto de estudo do
Estatuto. Como, então, menosprezar o ECA reduzindo-o a responsável pela violência cometida por menores no nosso
país? Estamos invertendo os valores, e usando as leis como pano de fundo para
certos interesses pessoais. Isso é um absurdo! Como podemos nos iludir tão
facilmente, achando que tudo se resolve numa mudança de lei? Sem base sólida,
nenhum castelo se sustenta.
Não se pode defender
criminosos, mesmo que sejam crianças em idade fisiológica, mas não seria mais
lógico e menos oneroso preparar novas gerações com cidadania e respeito do que
apenas fomentar uma camuflada guerra civil, alimentando o ódio e a vingança na
sociedade que está cansada e frágil, tendo como exemplo os acontecimentos em São
Luís do Maranhão nos últimos meses, com linchamentos em praça pública, por
sociedade que é bombardeada diariamente pelos noticiários policiais, criando um
ciclo de medo e raiva que faz adoecer qualquer indivíduo. Se o futuro de uma
nação são as crianças, porque não investimos nelas de uma vez por todas? Deixemos nosso egoísmo de lado e comecemos a tratar do nosso país como um lar,
e não como um terreno baldio sem dono, somos todos donos do Brasil, e nenhuma
criança é culpada por nascer em situação desfavorável – seja financeira ou
emocionalmente em seio familiar, quando existe família – sem perspectiva de um futuro
certo e protegido pelo seu tutor mor que é o Estado.
O ECA já é um adulto de
25 anos tentando cuidar de menores de 18, mas somos todos responsáveis, em
variados níveis, pelo cumprimento e real maturidade dessa lei que, na teoria, é
digna de total respeito e admiração na proteção das nossas crianças e adolescentes,
futuros cidadãos, viventes ou sobreviventes, em um Brasil que ainda não perdeu
a esperança de ser um país, verdadeiramente, de todos.
Texto: André Neves
Texto: André Neves
É verdade apesar dos avanços o ECA tem deixado muito a desejar. E numa época de redes sociais, de expansão tecnológica e acesso imediato as informações que temos hoje, são muitos os desafios e novos problemas surgem no que tange a vida da criança e do adolescente. Os crimes de bullying, assédio e exploração destes por meio virtuais, tem sido uma área ignorada pelo ECA também. Temos muito o que melhorar, e reconhecer isto já é o primeiro passo.Ótimo artigo André Neves, parabéns.
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